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16 de Abril de 2024

Para Quinta Turma, é nula prova obtida a partir da escuta não autorizada de ligação em viva-voz

há 7 anos

Quando não houver consentimento do investigado ou autorização judicial, são consideradas ilícitas as provas obtidas pela polícia por meio de conversas realizadas entre ele e outras pessoas pelo sistema de viva-voz de telefones.

O entendimento foi firmado pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao manter decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) que absolveu um homem preso em flagrante com base em prova colhida após interceptação não autorizada de conversa telefônica. A decisão foi unânime.

Segundo a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro, policiais militares da cidade de Campos dos Goytacazes (RJ) realizavam patrulhamento quando perceberam “nervosismo” em dois homens que trafegavam em uma motocicleta e resolveram abordá-los.

Nada foi encontrado na revista; todavia, após um dos suspeitos receber uma ligação de sua mãe – e ter sido compelido pelos policiais a colocar o celular no modo viva-voz –, na qual ela pedia que o filho retornasse à casa e entregasse certo “material” para uma pessoa que o aguardava, os policiais foram até a residência e encontraram 11 gramas de crack, acondicionados em 104 embalagens plásticas.

Nulidade

Em primeira instância, o réu foi condenado a sete anos de prisão por tráfico de drogas, em regime fechado. Contudo, o TJRJ o absolveu por concluir que houve interceptação telefônica não autorizada judicialmente, com a consequente anulação das provas colhidas a partir dela.

Para o TJRJ, as circunstâncias do caso levam à conclusão de que o réu foi forçado a atender o celular no viva-voz, pois não teria sentido ele decidir por vontade própria expor sua conversa comprometedora no momento em que era submetido a uma abordagem policial.

O tribunal fluminense lembrou o direito à não autoincriminação e ainda colocou em dúvida se os policiais, desprovidos de mandado judicial, teriam ingressado na casa mediante convite espontâneo do suspeito e de sua mãe.

Diante da modificação da sentença, o Ministério Público apresentou recurso especial ao STJ sob o argumento de que a atuação dos policiais não se assemelharia à quebra ilegal do sigilo telefônico. Para o MP, a abordagem policial foi realizada em virtude de atividade suspeita, e não por causa de investigação já em curso.

Conduta coercitiva

O ministro relator do recurso, Joel Ilan Paciornik, lembrou que a interceptação telefônica é atualmente um dos principais instrumentos de colheita de prova contra o crime organizado, especialmente nos casos de tráfico ilícito de entorpecentes. Entretanto, o ministro também apontou que são consideradas inadmissíveis as provas obtidas com violação da Constituição e das normas legais, assim como aquelas aparentemente lícitas, mas que derivam de procedimentos de colheita ilícitos.

“O relato dos autos demonstra que a abordagem feita pelos milicianos foi obtida de forma involuntária e coercitiva, por má conduta policial, gerando uma verdadeira autoincriminação. Não se pode perder de vista que qualquer tipo de prova contra o réu que dependa dele mesmo só vale se o ato for feito de forma voluntária e consciente”, ponderou o relator.

No voto, que foi acompanhado de forma unânime pela Quinta Turma, o ministro Paciornik concluiu que houve contaminação da prova obtida pela polícia fluminense, situação ilícita descrita pela teoria dos frutos da árvore envenenada e consagrada no artigo , inciso LVI, da Constituição.
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8 Comentários

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Muito discutível a decisão, data venia. Não houve tecnicamente "interceptação de sinal". Houve uma escuta,o testemunho de uma conversa, entre o suspeito e sua genitora, que reforçou as suspeitas dos policiais. E tão certo, que encontraram a droga na residência, confirmando o vislumbrado flagrante delito. Não foi no curso de uma investigação, dilatada no tempo, como exige a lei, para existir interceptação. continuar lendo

Eis um grande equívoco da justiça, que precisa ser reparado com urgência. continuar lendo

Decisões como esta é que estão levando ao descrédito do Poder Judiciário. Para a sociedade a leitura é de que 'mais importam as formalidades que o crime em si, que o dano à sociedade.' A 'teoria dos frutos a árvore envenenada' beneficia apenas ao criminoso, e jamais ao cidadão de bem, de forma que agride frontalmente o princípio de que todos devem ser tratados igualmente pela lei. Onde foram parar os fundamentos da República, especialmente o 'construir uma sociedade livre, justa e solidária'????? continuar lendo

Mais uma decisão q só favorece-o crime organizado, em detrimento da sociedade. Ou alguém q não está metido em crimes teria algum problema em atender seu viva-voz na frente de policiais? continuar lendo

Com o excesso do garantismo constitucional, escrito em causa própria pelo lixo legislativo brasileiro, o direito formal predomina sobre o direito material; quando deveria ser o contrário, o direito formal uma mera ferramenta para se obter o direito material.
Obviamente não se pode deixar de levar em consideração a necessidade de garantias aos envolvidos, em ambos os lados do caso, da sociedade, vítima e criminoso. Sempre dentro da razoabilidade e proporcionalidade, estas já há muito tempo perdidas em função do garantismo exacerbado. continuar lendo