Acesse: https://www.jusbrasil.com.br/cadastro
- 2º Grau
Acesse: https://www.jusbrasil.com.br/cadastro
Decisão Monocrática
Superior Tribunal de Justiça
AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.098.892 - SE (2017/0106862-4)
RELATORA : MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
AGRAVANTE : COSIL CONSTRUÇOES E INCORPORAÇOES S/A
AGRAVANTE : GIPSITA EMPREENDIMENTOS SPE LTDA
ADVOGADOS : ANDREA SOBRAL VILANOVA DE CARVALHO - SE002484 PEDRO AUGUSTO FATEL DA SILVA TARGINO GRANJA E OUTRO(S) - SE009609
AGRAVADO : ILDEBRANDO SOARES DOS SANTOS
AGRAVADO : MARIA VALDICE RODRIGUES PINHEIRO
ADVOGADOS : ELIUDE SANTANA TELES NASCIMENTO - SE004781 ANA JOSE BRITO SANTOS E OUTRO(S) - SE007659 DECISÃO Trata-se de agravo em recurso especial interposto por COSIL CONSTRUÇÕES E INCORPORAÇÕES S/A e outra, com fundamento no art. 105, III, alínea "c", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, com a seguinte ementa (fl. 417):
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS – CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - ATRASO NA ENTREGA DO BEM – PRAZO DE TOLERÂNCIA DE 180 DIAS LEGAL – DESCUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES POR PARTE DA DEMANDADA – PROVA DOCUMENTAL FARTA NOS AUTOS -INADIMPLEMENTO CONTRATUAL – IMPOSSIBILIDADE DE CONGELAMENTO DE SALDO DEVEDOR – APLICAÇÃO DE INCC -DANO MORAL – SÚMULA 12 DESTE TRIBUNAL – INDENIZATÓRIO QUANTUM ADEQUADO - RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO - DECISÃO UNÂNIME.
As agravantes apontam a ocorrência de dissídio jurisprudencial quanto à interpretação dos arts. 186 e 927 do Código Civil, defendendo ser descabida a condenação em danos morais presumidos com base no mero atraso da obra.
Assim delimitada a controvérsia, passo a decidir.
Conforme apontado pelas agravantes, a jurisprudência deste Superior Tribunal entende que não é cabível a condenação em indenização por danos morais na hipótese em que há simples atraso na entrega do imóvel pela incorporadora, pois o dissabor inerente à expectativa frustrada decorrente de simples inadimplemento
Superior Tribunal de Justiça
contratual se insere no cotidiano das relações comerciais e não implica lesão à honra ou violação da dignidade humana. Orienta, ainda, a jurisprudência que deve haver uma
consequência decorrente do descumprimento contratual para caracterização dos danos
extrapatrimoniais indenizáveis.
Confiram-se, a propósito, os seguintes precedentes:
CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ATRASO NA ENTREGA DE IMÓVEL. ABORRECIMENTO E DISSABOR. EXAME DAS PREMISSAS FÁTICAS DO ACÓRDÃO RECORRIDO. ENUNCIADO N. 7 DA SÚMULA DO STJ. NÃO INCIDÊNCIA.
1. O simples descumprimento contratual, por si, não é capaz de gerar danos morais, sendo necessária a existência de uma consequência fática capaz de acarretar dor e sofrimento indenizável pela sua gravidade.
2. A Corte local, para reformar a sentença e julgar procedente o pedido de indenização por danos morais, concluiu que o atraso na entrega do imóvel, de aproximadamente 9 (nove) meses, por si, frustrou a expectativa do casal de ter um lar, causando, consequentemente, transtornos por não ter domicílio próprio. Com efeito, o Tribunal de origem apenas superestimou o desconforto, o aborrecimento e a frustração da autora, sem apontar, concretamente, situação excepcional específica, desvinculada dos normais aborrecimentos do contratante que não recebe o imóvel no prazo contratual.
3. A orientação adotada na decisão agravada não esbarra no óbice contido no enunciado n. 7 da Súmula do STJ, tendo em vista que foram consideradas, apenas, as premissas fáticas descritas no acórdão recorrido.
4. Agravo regimental desprovido.
(AgRg no REsp 1408540/MA, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, DJe 19.2.2015);
AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. IMÓVEL. COMPROMISSO DE COMPRA E VENDA. ENTREGA. ATRASO. DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL. DANO MORAL. INEXISTÊNCIA. PRECEDENTES.
1. Esta Corte tem firmado o posicionamento de que o mero descumprimento contratual, caso em que a promitente vendedora deixa de entregar o imóvel no prazo contratual injustificadamente,
Superior Tribunal de Justiça
embora possa ensejar reparação por danos materiais, não acarreta, por si só, danos morais.
2. Na hipótese dos autos, a construtora recorrida foi condenada ao pagamento de danos materiais e morais, sendo estes últimos fundamentados apenas na demora na entrega do imóvel, os quais não são, portanto, devidos.
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 570.086/PE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 27.10.2015).
No presente caso, o acórdão recorrido e os próprios autores não apontaram consequências ou desdobramentos com o descumprimento contratual além
da frustração com o atraso na entrega do imóvel.
Em face do exposto, conheço do agravo e dou provimento ao recurso especial para afastar a indenização por danos morais. Em razão da sucumbência
recíproca, arcará cada parte com 50% (cinquenta por cento) do pagamento das custas
e dos honorários advocatícios já fixados na origem.
Intimem-se.
Brasília (DF), 1º de agosto de 2018.
MINISTRA MARIA ISABEL GALLOTTI
Relatora