5 de Julho de 2022
- 2º Grau
Acesse: https://www.jusbrasil.com.br/cadastro
Detalhes da Jurisprudência
Órgão Julgador
Publicação
Julgamento
Relator
Acesse: https://www.jusbrasil.com.br/cadastro
Inteiro Teor
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 584809 - MS (2020/0125538-0)
RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
AGRAVANTE : AGNALDO DOS SANTOS MIRANDA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL CHRISTIANE MARIA DOS SANTOS PEREIRA JUCA INTERLANDO - MS005372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
DUPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTOS
CONCRETOS. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. MODUS OPERANDI.
GRAVIDADE CONCRETA. REITERAÇÃO DELITIVA. LEGALIDADE.
RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO CORONAVÍRUS (COVID-19).
RÉU QUE NÃO FAZ PARTE DO GRUPO DE RISCO. ESTABELECIMENTO
PRISIONAL QUE DEMONSTRA ADOTAR AS MEDIDAS
ASSECURATÓRIAS RECOMENDADAS.
1. Ha hipótese, verifica-se que a prisão cautelar foi decretada e
mantida levando-se em consideração, além da gravidade concreta do delito,
evidenciada pelo modus operandi empregado – o acusado após matar a
vítima, pela oferta e consumo de drogas, destruiu o seu cadáver,
decapitando-o e levando a cabeça para a residência da vítima –, a
necessidade de se evitar a reiteração delitiva na prática de crimes – pois,
conquanto primário, o réu responde a outras seis ações penais, por delitos
graves (tentativa de homicídio, lesão corporal no âmbito doméstico e
estupro).
2. A crise do novo coronavírus deve ser sempre levada em conta na análise
de pleitos de libertação de presos, mas, ineludivelmente, não é um passe
livre para a liberação de todos, pois ainda persiste o direito da coletividade
em ver preservada a paz social, a qual não se desvincula da ideia de que o
sistema de justiça penal há de ser efetivo, de sorte a não desproteger a
coletividade contra os ataques mais graves aos bens juridicamente
tutelados na norma penal (HC n. 567.408/RJ, Ministro Rogerio Schietti Cruz,
DJe 23/3/2020).
3. Em especial no que se refere à situação do agravante e o advento da
pandemia de Covid-19, não há comprovação do quanto alegado na
impetração, pois o fato de o réu constar em lista avulsa, sem qualquer indicação de quem a produziu, dos apenados que usam medicamento para hipertensão, por si só, não comprova que ele se encontra no grupo de risco. 4. Ao contrário, segundo asseverou o Magistrado de primeiro grau, trata-se de indivíduo jovem, sem qualquer comorbidade sequer alegada, quanto mais comprovada. Consta, ainda, que a Penitenciária de Coxim/MS disponibiliza atendimento médico aos internos e, ao que parece, adotou todas as providências pertinentes para prevenção e higiene dos presos.
5. Nesse contexto, não se aplica à hipótese a Recomendação n. 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça, porquanto, além de se tratar de crime cometido com violência extremada, as instâncias ordinárias afirmaram que o réu não faz parte do grupo de risco e a defesa não logrou demonstrar qualquer situação excepcional, que aumente as chances de contaminação pela Covid-19, no estabelecimento prisional onde se encontra.
6. Agravo regimental improvido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília, 18 de agosto de 2020.
Ministro Sebastião Reis Júnior
Relator
AgRg no HABEAS CORPUS Nº 584809 - MS (2020/0125538-0)
RELATOR : MINISTRO SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
AGRAVANTE : AGNALDO DOS SANTOS MIRANDA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL CHRISTIANE MARIA DOS SANTOS PEREIRA JUCA INTERLANDO - MS005372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO
DUPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTOS
CONCRETOS. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. MODUS OPERANDI.
GRAVIDADE CONCRETA. REITERAÇÃO DELITIVA. LEGALIDADE.
RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO CORONAVÍRUS (COVID-19).
RÉU QUE NÃO FAZ PARTE DO GRUPO DE RISCO. ESTABELECIMENTO
PRISIONAL QUE DEMONSTRA ADOTAR AS MEDIDAS
ASSECURATÓRIAS RECOMENDADAS.
1. Ha hipótese, verifica-se que a prisão cautelar foi decretada e
mantida levando-se em consideração, além da gravidade concreta do delito,
evidenciada pelo modus operandi empregado – o acusado após matar a
vítima, pela oferta e consumo de drogas, destruiu o seu cadáver,
decapitando-o e levando a cabeça para a residência da vítima –, a
necessidade de se evitar a reiteração delitiva na prática de crimes – pois,
conquanto primário, o réu responde a outras seis ações penais, por delitos
graves (tentativa de homicídio, lesão corporal no âmbito doméstico e
estupro).
2. A crise do novo coronavírus deve ser sempre levada em conta na análise
de pleitos de libertação de presos, mas, ineludivelmente, não é um passe
livre para a liberação de todos, pois ainda persiste o direito da coletividade
em ver preservada a paz social, a qual não se desvincula da ideia de que o
sistema de justiça penal há de ser efetivo, de sorte a não desproteger a
coletividade contra os ataques mais graves aos bens juridicamente
tutelados na norma penal (HC n. 567.408/RJ, Ministro Rogerio Schietti Cruz,
DJe 23/3/2020).
3. Em especial no que se refere à situação do agravante e o advento da
pandemia de Covid-19, não há comprovação do quanto alegado na
impetração, pois o fato de o réu constar em lista avulsa, sem qualquer indicação de quem a produziu, dos apenados que usam medicamento para hipertensão, por si só, não comprova que ele se encontra no grupo de risco. 4. Ao contrário, segundo asseverou o Magistrado de primeiro grau, trata-se de indivíduo jovem, sem qualquer comorbidade sequer alegada, quanto mais comprovada. Consta, ainda, que a Penitenciária de Coxim/MS disponibiliza atendimento médico aos internos e, ao que parece, adotou todas as providências pertinentes para prevenção e higiene dos presos.
5. Nesse contexto, não se aplica à hipótese a Recomendação n. 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça, porquanto, além de se tratar de crime cometido com violência extremada, as instâncias ordinárias afirmaram que o réu não faz parte do grupo de risco e a defesa não logrou demonstrar qualquer situação excepcional, que aumente as chances de contaminação pela Covid-19, no estabelecimento prisional onde se encontra.
6. Agravo regimental improvido.
RELATÓRIO
Trata-se de agravo regimental interposto por Agnaldo dos Santos Miranda ,
em que se impugna a decisão monocrática, de minha lavra, que denegou a ordem de
habeas corpus, no qual se pleiteava a concessão de liberdade provisória, pelos
fundamentos sintetizados na seguinte ementa (fl. 386):
HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DUPLAMENTE QUALIFICADO. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTOS CONCRETOS. GARANTIA DA ORDEM PÚBLICA. MODUS OPERANDI. GRAVIDADE CONCRETA. REITERAÇÃO DELITIVA. LEGALIDADE. RISCO DE CONTAMINAÇÃO PELO CORONAVÍRUS (COVID-19). PACIENTE QUE NÃO FAZ PARTE DO GRUPO DE RISCO. ESTABELECIMENTO PRISIONAL QUE DEMONSTRA ADOTAR AS MEDIDAS ASSECURATÓRIAS RECOMENDADAS.
Ordem denegada.
Insiste o agravante que, na hipótese, deve ser reconhecido o seu direito à prisão domiciliar ou ao cumprimento de medidas cautelares não prisionais, porquanto, ao contrário do que constou na decisão do Tribunal de Origem, [...] enquadra-se no grupo de risco (hipertensão arterial - conforme comprova o documento de págs. 266/267), o que faz com que o presente caso se enquadre, ainda, na alínea b, do inciso I da art. 4ª da Recomendação 62, CNJ (fl. 399).
Requer, assim, a reconsideração da decisão agravada ou, caso contrário, a
sua submissão ao órgão colegiado competente.
É o relatório.
VOTO
constrangimento ilegal a ser reparado.
Consta dos autos que o réu pleiteou ao Juízo de primeiro grau a revogação
da prisão preventiva ou, subsidiariamente, a substituição da custódia por prisão
domiciliar ou cautelares diversas, sustentando, ser a medida recomendada pelo CNJ,
em razão da pandemia causada pelo novo coronavírus. O Juízo da Vara Criminal -Infância e Juventude - da comarca de Coxim/MS indeferiu o pedido, pelos seguintes
fundamentos (fls. 27/28 - grifo nosso):
A Recomendação n. 62/2020, do Conselho Nacional de Justiça, recomendou a revisão das prisões cautelares, a fim de verificar a possibilidade excepcional de aplicação de medida alternativa à prisão.
Contudo, analisando o presente caso, tem-se que os requisitos que ensejaram a decretação da prisão preventiva continuam presentes.
Ressalte-se que, o crime praticado pelo acusado causou extremo clamor social, uma vez que se trata da prática do crime de homicídio qualificado pelo motivo torpe e pelo meio cruel, uma vez que o acusado após matar a vítima, pela oferta e consumo de drogas, destruiu o seu cadáver, decapitando-o e levando a cabeça para a residência da vítima.
Além do mais, verifica-se que o acusado demonstra ser pessoa agressiva e voltada para a prática de delitos, uma vez que, apesar de ser primário, responde a outros 06 (seis) processos criminais, pela prática de diversos crimes, entre eles pela prática do delito de homicídio, na forma tentada, lesão corporal no âmbito doméstico familiar (por duas vezes) e estupro, conforme consta em sua certidão de antecedentes criminais.
No que concerne a situação de instabilidade epidemiológica, é evidente que o interesse público deve prevalecer sobre o privado e, no caso em apreço, conforme ressaltado pelo MPE, o custodiado não apresentou qualquer informação ou documento capaz de comprovar que integra o grupo de risco apto a conduzir a eventual agravamento dos sintomas do COVID-19. Trata-se de indivíduo jovem, sem qualquer comorbidade sequer alegada, quanto mais comprovada.
Outrossim, deve se levar em consideração o contexto local e, no caso, diversas medidas de combate à disseminação do vírus foram e estão sendo tomadas pelo poder público e, notadamente, pela AGEPEN.
Demais disso, o Estabelecimento Penal de Coxim-MS, disponibiliza atendimento médico aos custodiados, além de estarem sendo adotadas as cautelas necessárias para garantir a prevenção e higiene dos presos pela AGEPEN, conforme Nota Técnica Orientativa 01 /2020/GAB/AGEPEN, dispondo sobre orientações para prevenção de contágio por coronavírus e outras doenças, sendo certo que já nos basta a delicada circunstância sanitária, não sendo adequado ou prudente que, além disso, tenhamos de enfrentar uma delicada - e perigosa circunstância quanto a insegurança pública.
Assim, indubitavelmente, os pressupostos da prisão preventiva se
encontram presentes, porquanto pacífico é o entendimento nesta Corte Superior de que
não há constrangimento ilegal quando a segregação provisória é decretada em razão
do modus operandi com que o delito fora praticado (RHC n. 96.834/MS, Ministro
impedir a reiteração criminosa delitiva (HC n. 482.292/MG, Ministro Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, DJe 14/2/2019).
Quanto ao mais, em especial no que se refere à situação do agravante e o advento da pandemia de Covid-19, não há comprovação do quanto alegado na impetração, pois o fato de o réu constar em lista avulsa (fl. 272), sem qualquer indicação de quem a produziu, dos apenados que usam medicamento para hipertensão, por si só, não comprova que ele se encontra no grupo de risco.
Ao contrário, segundo a decisão acima transcrita, trata-se de indivíduo jovem, sem qualquer comorbidade sequer alegada, quanto mais comprovada (fl. 28). Além disso, segundo o Magistrado de piso, a Penitenciária de Coxim/MS disponibiliza atendimento médico aos internos e, ao que parece, adotou todas as providências pertinentes para prevenção e higiene dos presos.
Sobre o tema, tão atual, convém lembrar as palavras do Ministro Rogerio Schietti Cruz, para quem a crise do novo coronavírus deve ser sempre levada em conta na análise de pleitos de libertação de presos, mas, ineludivelmente, não é um passe livre para a liberação de todos, pois ainda persiste o direito da coletividade em ver preservada a paz social, a qual não se desvincula da ideia de que o sistema de justiça penal há de ser efetivo, de sorte a não desproteger a coletividade contra os ataques mais graves aos bens juridicamente tutelados na norma penal (HC n. 567.408/RJ, DJe 23/3/2020).
Nesse contexto, reitero o meu entendimento no sentido de que não se aplica à hipótese a Recomendação n. 62/2020 do Conselho Nacional de Justiça, porquanto, além de se tratar de crime cometido com violência extremada, as instâncias ordinárias afirmaram que o réu não faz parte do grupo de risco e a defesa não logrou demonstrar qualquer situação excepcional, que aumente as chances de contaminação pela Covid-19, no estabelecimento prisional onde se encontra.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental.
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEXTA TURMA
AgRg no
Número Registro: 2020/0125538-0 HC 584.809 / MS
MATÉRIA CRIMINAL
Números Origem: 00014134420198120011 082019000923040 1403336720208120000
14134420198120011 82019000923040
EM MESA JULGADO: 18/08/2020
Relator
Exmo. Sr. Ministro SEBASTIÃO REIS JÚNIOR
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO
Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. LUIZA CRISTINA FONSECA FRISCHEISEN
Secretário
Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA
AUTUAÇÃO
IMPETRANTE : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL CHRISTIANE MARIA DOS SANTOS PEREIRA JUCA INTERLANDO -MS005372
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
PACIENTE : AGNALDO DOS SANTOS MIRANDA (PRESO)
INTERES. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
ASSUNTO: DIREITO PENAL - Crimes contra a vida - Homicídio Qualificado
AGRAVO REGIMENTAL
AGRAVANTE : AGNALDO DOS SANTOS MIRANDA (PRESO)
ADVOGADOS : DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL CHRISTIANE MARIA DOS SANTOS PEREIRA JUCA INTERLANDO -MS005372
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
AGRAVADO : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
IMPETRADO : TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
A Sexta Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Rogerio Schietti Cruz, Nefi Cordeiro, Antonio Saldanha Palheiro e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator.