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16 de Abril de 2024

Terceira Turma reconhece aplicabilidade do CDC em contrato de seguro empresarial

há 10 anos
Em decisão unânime, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor (CDC) nos contratos de seguro empresarial, na hipótese em que a empresa contrata seguro para a proteção de seus próprios bens sem o integrar nos produtos e serviços que oferece. A decisão foi tomada em julgamento de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).

Uma empresa do ramo de comércio de automóveis novos e usados contratou seguro para proteger os veículos mantidos em seu estabelecimento. A seguradora, entretanto, negou a cobertura do prejuízo decorrente do furto de uma caminhonete nas dependências da empresa.

Segundo a seguradora, a recusa foi em virtude da falta de comprovação de ter havido furto qualificado, já que não havia na apólice a garantia para o sinistro furto simples.

A empresa segurada ajuizou ação por quebra de contrato. A sentença, aplicando a legislação consumerista, julgou o pedido procedente, mas o TJSP entendeu pela inaplicabilidade do CDC e reformou a decisão.

Consumo x insumo

Segundo a Corte local, a empresa não poderia alegar que não sabia das condições de cobertura da apólice. Ao segurador caberia apenas cobrir os riscos predeterminados no contrato, não se admitindo interpretação extensiva ou analógica das cláusulas de cobertura.

No recurso ao STJ, a empresa insistiu na aplicação do CDC e no reconhecimento de que as cláusulas ambíguas ou contraditórias do contrato de adesão devem ser interpretadas favoravelmente ao aderente.

Afirmou que, ao estipular no contrato que o seguro cobria furto qualificado, a seguradora fez presumir no negócio que cobria também furto simples, “pois quem cobre o mais, cobre o menos".

O ministro Villas Bôas Cueva, relator, acolheu a irresignação. Segundo ele, o fundamento de relação de consumo adotado pelo STJ é o de que toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza, como destinatário final, produto ou serviço de determinado fornecedor é consumidor.

Para o ministro, não se pode confundir relação de consumo com relação de insumo. Se a empresa é a destinatária final do seguro, sem incluí-lo nos serviços e produtos oferecidos, há clara caracterização de relação de consumo.

“Situação diversa seria se o seguro empresarial fosse contratado para cobrir riscos dos clientes, ocasião em que faria parte dos serviços prestados pela pessoa jurídica, o que configuraria consumo intermediário, não protegido pelo CDC”, explicou o ministro.

Cláusulas abusivas

Em relação à cobertura do furto simples, o relator entendeu que, como o segurado (consumidor) é a parte mais fraca da negociação, cabe ao segurador repassar as informações adequadas e de forma clara sobre os produtos e os serviços oferecidos, conforme estabelecido no artigo 54, parágrafo 4º, do CDC.

Segundo o ministro, cláusulas com termos técnicos e de difícil compreensão são consideradas abusivas, e no caso apreciado ficou evidente a falta de fornecimento de informação clara da seguradora sobre os reais riscos incluídos na apólice.

“Não pode ser exigido do consumidor – no caso, do preposto da empresa – o conhecimento de termos técnico-jurídicos específicos, ainda mais a diferença entre tipos penais de mesmo gênero (furto simples e furto qualificado), ambos crimes contra o patrimônio”, disse o relator.

Com esse entendimento, foi restabelecida a sentença que determinou o pagamento da indenização securitária.
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3 Comentários

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Ola Nelci , acrescentei direito constitucional, pois proteção ao consumidor na constituição de 1988 foi elevada a cláusula constitucional5º Constituição Federal do Brasil Incisos V ,X XXXII , 170 V CF continuar lendo

5º Constituição Federal do Brasil Incisos V ,X XXXII
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
V - defesa do consumidor; continuar lendo

A decisão é absurda, pois coloca uma sociedade empresária na condição de consumidora, conceito jurídico, via de regra, exclusivo das pessoas naturais nas legislações dos países desenvolvidos. Como se não bastasse, considera ingenuamente que o empresário não repassa o custo do prêmio pago à seguradora ao consumidor, embutindo no preço de seus produtos (carros que comercializa). Ainda mais frágil é o argumento de que "quem cobre o mais cobre o menos", haja vista que uma cobertura para crimes mais graves (majorados e qualificados), que ocorrem em menor frequência do que os delitos na modalidade pura, como indica a inteligência do ser humano médio, é esta sim posicionada como "o menos". Ademais, não é aceitável que aquele que faz do comércio seu mister não se valha de assessoria jurídica para opinar e avaliar os atos jurídicos que celebra. Lamentavelmente, decisões judiciais como essa ingressam nos cálculos nas tábuas de sinistralidade das seguradoras, levando-as a majorar os prêmios, haja vista que não raro o Judiciário vê inseridas no pacto coberturas não contratualmente contratadas. Esse valor ampliado é repassado à sociedade; pagaremos todos os segurados - assim condenados reflexamente - num verdadeiro efeito transcendente (e a posteriori) da decisão judicial. Vale a pena meditar sobre o tema. continuar lendo