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24 de Abril de 2024

Mesmo sem risco de quebra, Lojas Americanas terão de responder a ação de falência

há 10 anos

É possível pedir a decretação da falência de uma empresa mesmo sem comprovação de sua insolvência econômica ou ainda que fique demonstrado que seu patrimônio supera o valor das dívidas.

Com esse entendimento, a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) permitiu que tenha continuidade uma ação de falência contra as Lojas Americanas, ajuizada em razão de débito de R$ 133 mil que não foi pago na época própria. O valor já foi depositado, o que afasta a possibilidade de decretação da falência.

As Lojas Americanas depositaram o valor discutido para se preservar do “desnecessário e vexatório procedimento falimentar”. Diante do pagamento, o juiz extinguiu o processo sem resolução de mérito. Porém, na apelação, a sentença foi cassada para que a ação prosseguisse normalmente.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) afirmou que não era possível extinguir o feito com o fundamento de o credor estar utilizando requerimento de falência no lugar da execução.

Inconformadas com a decisão do TJRJ, as Lojas Americanas pediram a extinção do feito no STJ. Alegaram que, por terem realizado o depósito do valor cobrado, a ação deveria ser considerada improcedente.

Solidez financeira

A empresa acusou o credor de haver ajuizado a ação de falência exclusivamente para coagi-la a pagar o débito, usando-a como substituta de ação de cobrança. Entretanto, em virtude de sua solidez financeira, disse que não seria abalada por um débito de tal valor.

No STJ, o ministro Luis Felipe Salomão afirmou que não cabe ao Judiciário barrar os pedidos de falência que observam os critérios estabelecidos em lei, como no caso.

O ministro esclareceu que, no ordenamento jurídico brasileiro, existem dois sistemas de execução por concurso universal. O primeiro é o processo de insolvência civil, que se apoia “no pressuposto da insolvência econômica, que consiste na presença de ativo deficitário para fazer frente ao passivo do devedor, nos termos do artigo 748 do Código de Processo Civil ”.

O segundo é o sistema falimentar, com base na insolvência jurídica, caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico, como a impontualidade injustificada, a execução frustrada e a prática de atos de falência, conforme estabelece o artigo 94 da Lei 11.101/05. Nesse sistema não há o pressuposto da insolvência econômica, mas ela é presumida nas hipóteses legais.

Valor mínimo

Salomão lembrou que o antigo sistema falimentar, disciplinado pelo Decreto-Lei 7.661/45, não estabelecia valor mínimo para que o credor ajuizasse pedido de falência do devedor com base na impontualidade injustificada. Segundo ele, esse fato propiciava pedidos de falência apoiados em valores pequenos, o que não passava de “mera substituição do processo de execução pelo falimentar”.

Entretanto, o ministro ressaltou que esse abuso foi combatido com a edição da Lei 11.101, que estabeleceu o valor de 40 salários mínimos como piso para justificar o pedido de falência baseado na impontualidade injustificada.

“É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas”, esclareceu Salomão.

Mera cobrança

O ministro afirmou que o depósito efetuado pelas Lojas Americanas afasta a possibilidade de decretação da falência da empresa. Porém, reconheceu que a ação precisa prosseguir, “mesmo que seja sob o rito de mera cobrança”, pois foi fundamentada em hipótese prevista em lei. Durante o processo poderão, inclusive, ser esclarecidas questões relativas à exigibilidade das duplicatas, que chegou a ser contestada pelas Americanas.

O relator disse que, para a pretensão da empresa de extinguir o processo, é irrelevante seu argumento de ser uma das maiores do ramo e ter notória solidez financeira. “Há uma presunção legal de insolvência que beneficia o credor, cabendo ao devedor elidir tal presunção no curso da ação”, declarou.

Conforme constatou Salomão, o pedido de falência foi baseado na impontualidade injustificada de títulos que superam o piso legal de 40 salários mínimos. “Por absoluta presunção legal, fica afastada a alegação de atalhamento do processo de execução pela via falimentar”, afirmou.

“Deve a ação prosseguir, mesmo que seja sob o rito de mera cobrança, tendo em vista o depósito elisivo efetuado com o propósito de afastar a possibilidade de decretação da quebra”, concluiu o relator.

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3 Comentários

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Penso, que o Ministro Luis Felipe Salomão está seguindo o disposto na Lei 11.101/2005, que determina a aplicação subsidiária do CPC. Desta feita, contestado o pedido e feito o depósito elisivo deve o Judiciário analisar as razões de direito (art. 96 L. 11.101/2005), seguindo o rito do procedimento ordinário. Sendo certo que ao final o Juízo poderá determinar o pagamento do credor ou o levantamento da quantia pelo depositante. O risco da falência está afastado. continuar lendo

Que maravilha, transformar o judiciário em escritório de cobrança... se a moda pega!!!
Espero que no final, os juízes levem em consideração que a empresa que processou usou de má fé, porque sabia que apesar de "legal" não era o caminho. Imagina se o pedido de falência é acatado, passando despercebido pelo judiciário... quantos empregos iriam para o beleleu!!!
O judiciário já tem muitos processos rolando, não vejo porque tocar eternamente "coisas" como essa... O mais importante, cade a tão famosa conciliação? porque jogar tudo no colo do juiz e simplesmente livra-los disso tudo, com um fase de conciliação, que certamente teria sido feita pela Loja Americana. continuar lendo

Absurdos, que sobrecarregam o Poder Judiciário, quando se há tanta coisa pra de fato o Judiciário analisar ! Assim, é que muitos utilizam o Poder judiciário, para se esconderem de crimes contra terceiros, ficar em situações de superioridade, quando em verdade são os verdadeiros caloteiros ! Tipo, síndicos de prédio, ajuizou ação de cobrança contra mim, em 2008 e até hoje está no poder, usurpando de uma administração corrupta, porca esbarrando na desonestidade. Mas, protegido por falsas alegações judicias...não devo nada nem ninguém. Mas, enquanto a máquina emperrada judiciária fica discutindo o que na lógica é simples ao extremo, o homem continua com suas falcatruas dominando o prédio, com mão de ferro e ameaças ! Isso, só um exemplo de muitas manipulações que ocorrem com o uso indevido da legislação..... continuar lendo